terça-feira, 21 de setembro de 2010

Masks

Toda máscara tem duas aberturas na área dos olhos, para que, mesmo quando privamos o mundo de ver nossa verdadeira face, consigamos, mesmo assim, enxergar. Com a idade, as pessoas vão, aos poucos descobrindo que é tão cômodo, é tão mais seguro esconder a fisionomia, que passam a achar que não vale mesmo a pena presentear o mundo com transparência.
No entanto, são justamente os olhos que desmentem as máscaras. Eles estão e estarão para sempre lá, descobertos. E eu, da mesma forma que você, mesmo vivendo num interminável baile de máscaras, já aprendi a olhar através da porcelana, a fitar os olhos tristes que estão logo acima do sorriso radiante.
No entanto, o que eu enxergava era tão bonito que me parecia apenas a mais bela máscara do baile, uma plástica distração que me transformaria em joguete, hipnotizado por aquela face que ostentava dolorosa beleza. Até hoje apalpo teu rosto procurando emendas, desníveis, vestígios de cola ou encaixes bem-feitos, sem sucesso algum. Me deixei ser levado por tamanho encanto, e sigo flutuando em simples nuances de voz, sussuros inesperados e intrincados escritos.
Abriu-se uma roda. Somos o par que dança alegremente entre os mascarados, sentindo na pele do rosto a brisa de lança-perfume que faz parar o tempo, devidamente despidos das máscaras.

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